DESASTRE.





A perda gera mal irreparável.
A ausência do calor do corpo, a pele que sempre próxima provocava reações de felicidade nos dois, os perfumes únicos daquela relação, sons das palavras inconfundíveis, tudo interrompido pelo inesperado que nos fazendo uma surpresa, levou para sempre tudo o que era de melhor.
Procura-se agora a caixa-preta que possa explicar as causas do fim!
Tarefa árdua pela frente, pois em meio a tantos destroços procurar aquele coração de metal que sentiu e registrou tudo durante os últimos momentos, nem sempre poderá trazer por completo as informações necessárias , afinal as maquinas frias que voam,usam asas fabricadas e o ser humano alça vôos impelidos por emoções e fantasias.
Pássaros de ferro são máquinas, mas com gente é diferente!
Ambos, no entanto,possuem algumas características comuns como o fato do desastre ter suas causas na incompetência no trato das manobras às vezes as mais sutis, simples e necessárias para manter em voo o amor e aeronaves.
Uma delas com certeza é nos acomodarmos e pensarmos que já sabemos tudo sobre o que está a nossa disposição como se nada mais pudesse alterar a tranqüilidade da rota.
Ledo engano, pois, a rotina não salva nada, apenas embrutece nossas sensibilidades nos relacionamentos com a vida e nos transformam em mestres burocratas na certeza de que  aquilo é assim, se fez eterno e  nada mudará mais aquela realidade.
Ficamos tão confiantes na infalibilidade e na certeza de que, as vinte e quatro horas do dia sempre continuarão serem a mesmas que, de repente, saído do nada, um estrondo, gritos das bocas e das almas, tudo despenca, balburdia no interior das ocas aeronaves e agitação anormal das pulsações cardíacas descontroladas daqueles que pensavam estar seguros.
E fica evidenciado que as suas poltronas do amor, afeto e sentimentos que deram origem àquela confortável viagem, agora evidenciam molas expostas que espetam e incomodam.
Descobrem que tudo aquilo não era mais nada e o desgaste do material havia-lhes invadido a circulação sanguínea e entupimentos diferenciados em diferenciadas partes de nós, começavam a provocar cianose nos corpos em manchas roxas indesejáveis que prenunciavam a necrose e falência de um relacionamento que, foi posto a viajar no automático.
E durante o trajeto em queda livre para o choque, não nos sairá das cabeças o beijo que ignoramos os afagos que omitimos os elogios negados, as presenças negadas, e repetidas vontades de chamar de amor quem sempre esteve ao nosso lado, esperando sempre para dizer mais tarde, mais tarde, mais tarde...
E agora nunca mais!
Elementos tão subjetivos mas, absolutamente essenciais como estes, nenhuma caixa-preta analisada poderá apontar como causas verdadeiras do desastre,pois suas sutilezas apenas poderiam ser sentidas.

12 comentários:

  1. Muito bom o texto, camarada!
    "desastre ter suas causas na incompetência no trato das manobras às vezes as mais sutis, simples e necessárias para manter em voo o amor e aeronaves." Rapaz, isso diz muitíssimo!
    Detalhes fazem a diferença.

    Até mais!
    Abraço!

    http://emanuellefigueiredo.blogspot.com.br/

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    1. EMANUELLE,

      e nós sempre pensamos o contrário concorda?

      Ficamos sempre na megalomania dos gestos e atitudes de grandes efeitos, esquecendo que um olhar e um sorriso não tem preço.

      Um abração carioca, este aqui também de graça! (rs)

      P.S. Fiquei bastante honrado com sua vinda até aqui.

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  2. Paulo, às vezes só queremos fluir, deixar que a vida se encarregue de sentirmos, mas esquecemos da dor que se faz necessária para vivermos, para sentirmos a vida e para amarmos, a dor de se doar, de ver o outro, a dor de se dividir com o outro, de gritar, de gemer, a dor de amar e de se deixar amar... Quando superarmos a dor e o medo de nos mostrar, talvez, encontremos o caminho de entender esses elementos subjetivos... Gostei do texto, bela reflexão.
    Um abração carioca!

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  3. Pois é sub helena,tudo tem seus encantos e todas as formas de sermos felizes, também!

    Ninguém é só absolutamente feliz de forma inexoravelmente indolor, e ninguém, é só dor sem experimentar também, os prazerosos e insubstituíveis prazeres do amor.

    Repare que a obra pronta é sempre uma síntese de todos estes fatores.

    E na maioria das vezes a dor e amor caminham juntos,sim.

    E você está correta, afinal ,tudo se resume a uma questão de aceitação e de superação!

    Um abração carioca, minha amiga virtual.

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  4. Há muitas "caixas-pretas" submersas em porões emocionais humanos... Muitos não querem analisar o que está registrado... Tornam-se insensíveis, robotizados no fazer e imunizados no sentir... Depois, quando nada mais detém a queda aos porões, bate a sensação de inúmeras contestações da nulidade no melhor de todos os sentimentos - sermos gente e amar deixando-nos abertos e receptivos ao amor.
    Sua reflexão nos mostra subliminarmente o quanto o "poder, o ter" em nada supera o "ser e a pessoa". Excelente!
    Abraço.

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  5. CÉLIA RANGEL,

    quando é fácil escrever para você, além dos seus entendimentos corretos , vem e ainda de sobra, comentários que por si só dariam um outro texto.
    Obrigado Célia.
    Um abração carioca.

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  6. Olá Paulo!
    Quando o amor se vê em rota de colisão com o solo, alguém tem que ceder, alguém precisa desligar o piloto automático, antes que os destroços não passem apenas de meros resquícios de um conturbado voo que mal decolou!
    Forte abraço e bom fim de semana!

    VitorNani & Hang Gliding Paradise

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  7. VITORNANI,

    eu não tenho a menor dúvida sobre esta sua reflexão metafórica.

    Excepcional, como são os seus blogues que sempre indiquei, muito pedagógicos e para quem gosta de aventuras, muito bom.

    Um abração carioca.

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  8. Depois de uma turnê do seu blog, eu fui agradavelmente surpreendido, porque a beleza de suas postagens para que merece, por essa razão, eu tenho que parabenizá-lo.


    Eu sigo com grande interesse.

    Parabéns e cumprimentos de Gran Canaria.

    Até muito em breve.

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  9. ANDRÉS,

    obrigado e fiquei realmente sensibilizado com o seu reconhecimento aos meus blogues.

    Faço preocupado exatamente, com todos que me seguem e que bom você ter gostado.

    Um abração carioca.

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  10. Paulo,
    Fico a imaginar o que terá nas "caixas-pretas" dos nomes mais importantes do PT.
    Grande abraço.

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  11. Me chame de pessimista, mas ultimamente estou achando que ninguém sai vivo dessa viagem, não.

    Beijos!

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